fonte: O Globo

O drama enfrentado pelos doentes que precisam da rede municipal se reflete nas estatísticas do Ministério da Saúde sobre a produção ambulatorial. Diante da falta de material e dos atrasos nos salários das equipes médicas, o número de atendimentos nas unidades da prefeitura despencoueste ano. Dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) mostram uma queda de 30% em relação a 2017, oque significa menos 10,7 milhões de procedimentos de janeiro a agosto de 2018. O abismo é maior se comparado a 2016: houve uma redução de 43,6% em dois anos. Entre os serviços que tiveram mais cortes, estão aqueles oferecidos pelas Clínicas da Família —as chamadas ações de promoções e prevenção em saúde —, com uma redução de 59%.

Esse tipo de atendimento de atenção básica inclui consultas individuais ou coletivas, co moas reuniões dos grupos de combate ao tabagismo e de incentivo à alimentação saudável, além das visitas domiciliares feitas por agentes de saúde. Nos primeiros oito meses deste ano, foram 4,54 milhões de procedimentos. No mesmo período de 2107, o número chegou a 11,06 milhões, segundo o Datasus. Para o professor Felipe Asensi, do Instituto de Medicina Social da Uerj, a estatística revela o esvaziamento do programa de saúde da família no Rio. Segundo ele, esse descaso com as Clínicas da Família poderá provocar até o aumento de casos de dengue no próximo verão. Ele destacou ainda que o avanço da doença fará crescer a demanda nos hospitais.

— Dentro da própria concepção do SUS, a atenção básica é decisiva porque permite um foco muito grande em ações de prevenção e promoção da saúde. A redução do programa significa que, lá na frente, teremos problema: vai ser preciso investir mais no aspecto curativo, que é mais caro e exige, em geral, aporte de tecnologia maior. Teremos um maior gargalo de exames e cirurgias, porque a atenção básica foi reduzida em volume e em cobertura. Isso está na contramão do que é o SUS —afirma.

SÓ NÚMERO DE EXAMES SUBIU

A vendedora Graziele da Silva Marques, de 21 anos, sente na pele essa dificuldade de conseguir consultas na atenção básica. Na última quintafeira, a jovem grávida de dois meses passou mal e precisou de uma consulta, além das já realizadas no pré-natal. Foi preciso, porém, esperar mais de duas horas por um encaixe após passar por uma Clínica da Família, onde faz o acompanhamento da gestação, e uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA): —Desde a semana passada, não consigo comer e não paro de vomitar. Não consigo ir trabalhar, evou acabar perdendo meu emprego. Já tentei atendimento na UPA, mas eles nos mandam para a Clínica da Família. Ma saqui, na RaphaeldePa ula Souza, em Curi cica, está sempre cheio. É muito difícil conseguir uma consulta de encaixe. Acaba que nos mandam de volta para a UPA, porque dizem que é emergência. Ficam nos mandando de um lado para o outro — lamentou a grávida.

Se achar uma vaga nas Clínicas da Família está difícil, a situação t ambé mé dramática quando se trata de cirurgias ambulatoriais. Aqueda este ano foi de 45,2% nos casos de procedimentos que não necessitam de internação, como cirurgia de catarata, vasectomia e até a retirada de um câncer de pele.

Já as consultas clínicas caíram 26%: de 16,8 milhões para 12,4 milhões. De janeiro a agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2017, só houve aumento do número de exames: subiu de 7,47 milhões para 7,89 milhões. Procurada, a prefeitura não comentou os números do Datasus.